Por vezes me retraí - e ainda me retraio - dentro de mim
Malditos sejam os loucos, e minhas próprias loucuras, que
Por vazia se mostrar a realidade
Fizeram-me duvidá-la como real
E por muito vazia a mim se mostrar a realidade
Fez-se em mim o vazio que nela se mostra
E nele, por muitas vezes, busquei abrigo
Nestas reclusas angustiadas
Tentei, dentro de mim, encontrar-me
Fetiche persecutório, corridas desesperadas
Hei de encontrar-me?, o quê há de encontrar?,
se em constante movimentação o meu ser está?
Teremos como encontrar o que nunca é, o que nunca está?, o que
eternamente foi?
E se o somente é, o que há de encontrar - e descobrir - que já não se
sabe?
E se dentro de si tu já estás, por quê encontrar a si próprio?
Se há algo a se encontrar,
Ele é de fato você?
As sensações; janelas para a alma
O que se vê, o que se viu
O que se ouve, o que se ouviu
O que se sente, o que sentiu
A alma; o reflexo das sensações.
Cerrando as janelas das sensações
Prendo n'alma o reflexo
E a realidade, sendo transições,
Não mais realidade o reflexo é
Mas uma sensação estática
Do que uma vez foi, e não mais é
Quando o único espaço em que se habita
É o do interior que nega o exterior
D'alma que nega a realidade
Só se vive em desilusões
E seus delírios a lugar algum o levarão
Somente a reprodução da angústia
Duma realidade que se aparenta intransitória
*
Impessoabilidade