Colinas prateadas silvavam com o vento no plano escuro, e lá estava eu de
novo, confuso e com frio. Os ventos moviam as ondulações de fragmentos, sobre
meus pés eles passavam, grudando-se aos meus pelos e polvilhando meus pés de
branco. As colinas à frente brilhavam prateadas, e eu andava em sua direção.
Atrás de mim, zumbidos e frequências soavam, trompetes furiosos se perdiam
em ecos curtos e distantes, arrastados pelo vento frio, o mesmo que soprava em
minhas orelhas, arrepiando-me a nuca, como se expulsando dos meus ouvidos os
sons que ficavam para trás.
As dunas, vistas ao longe, tinham a face iluminada pela lua, e os seus
contornos, misturavam-se a breu que se fazia a noite. Eu posso me ver parado na
duna oposta a que estou olhando; minha silhueta se mistura aos contornos da
colina prateada, estou posto como uma figura mumificada, um corpo paralisado
pelo tempo, conservado pela sua secura e pelos cristais da areia que soprava.
A figura volta a mover-se, passos rijos, bem angulados, torna a caminhar
em direção a duna com a face prateada, nunca seus detalhes estiveram tão
salientes como daquele ponto alto que via. Assisto meu caminhar, minha vista se
tornando menos ampla conforme meus pés descem em direção ao pé da outra
duna, desço do mais alto ao mais baixo ponto, sigo o movimento ondulatório,
assistindo as ondas se desfazendo debaixo dos meus pés, procurando pelas
detalhadas ondas a diante, as ondas que continuam a mover-se com o vento,
mesmo as pisadas pelos meus pés deixam de se mover, reconstituem-se e
continuam seu ciclo.
Ergo minha cabeça e, afrontado, não mais via a face prateada da duna. Ela
não mais tornava o rosto para mim, bela e incorruptível, ondas virgens a minha
espera, mas seca-cinza como a areia deixada para trás, como meus pelos cobertos
pelos grânulos, os matos e arbustos secos, como a minha face de concreto, que
se fazia espantada, mas cética – ou mesmo cínica. Aquela não era a primeira face
que para mim se foi.
A caminhada continuava, e minha irriquietude arquejava pela mais-uma-
vez-subida e pelas belas ondas que antes me contemplavam, e agora, sucumbiam
às minhas pisadas, esmoreciam na minha cara, e minha cara ia junto, meus antes
ímpeto de tocá-las foi trocado pelo de não mais vê-las, fugir disparado de volta
ao cume. Agachava-me com raiva e ofegante, arrastava-me com as mãos, lutando
contra a areia que teimava em não deixar com que eu me movesse. A preocupação
tornara-se fazer força para subir, e quando já não havia mais atenção à beleza que
perdi, não havia mais a raiva para a subida dificultosa e dramática, sem a subida
dificultosa e dramática, não havia mais razão. A face tornou ao estoicismo,
paralisada novamente pelo tempo.
Do ponto do monte, misturando-se a circunferência escura, uma figura
mumificada postava-se ereta na face prateada. A face cinza, no ponto do monte,
não via face prateada alguma. Memórias se manifestavam como vultos no espaço,
posturas passadas apareciam encarando-me e desapareciam junto ao vento, sutis